quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Conta aí: Polônia - Um país marcado pelo passado

Por Thamara Paiva*




Quando minhas queridas amigas Kellyta e Chris saíram de Milão e rumaram de volta ao Porto, eu fui para uma outra aventura: conhecer a Polônia e visitar Caroline, minha colega polonesa que dividia o quarto comigo durante meu intercâmbio na cidade de Covilhã, Portugal. Estava ansiosa e muito empolgada para chegar num dos países que mais queria conhecer.

A moeda da Polônia é o Złoty e a diferença para o real não é muito grande. No entanto, como estava acostumada a contar tudo em euro me senti rica!


Meu roteiro ficou por conta da minha amiga Caroline que é de uma pequena cidade no interior da Polônia chamada Sulejów. Cheguei no aeroporto de Łódź num domingo à tarde. Ele é bem pequeno e não muito afastado do centro da cidade, tem ônibus e o taxi varia em torno de 30zl. Eu aconselho pegar táxi porque a maioria das pessoas não fala inglês.

Antes de ir para a cidade da Carol, e levando em consideração que minha permanência na Polônia seria bem corrida, aproveitamos para andar um pouco pela segunda maior cidade da Polônia: Łódź.

Łódź

Quem gosta de tirar fotos com estátuas e não perde a oportunidade de simular uma conversa com elas vai adorar Łódź. Me deparei com diversas no meio da rua! A mais famosa é a do pianista ArthurRubenstein que fica em frente à casa onde ele morou.

Escultura do pianista Arthur Rubenstein


Outro ponto forte da Cidade são as construções com tijolinhos vermelhos que constituem uma das partes mais importantes da história da cidade.  Łódź nos tempos da Revolução Industrial despontou e foi o principal centro de produção têxtil do Império Russo. Um grande exemplo disso é o Manufaktura. Um antigo conjunto de fábricas têxteis que virou shopping. A estrutura foi conservada e do lado de fora tem uma espécie de praça bem bonita e muito grande.

Łódź é também conhecida pelas artes. Lá tem uma das escolas de cinema mais famosas da Europa e alguns filmes também usaram a cidade como cenário.  Não fui, mas vale a pena conferir o Museu do Cinema de lá. Rapidamente é possível conhecer pontos principais do centro da cidade, não precisa de mais que uma tarde. No domingo a cidade fica deserta, pouquíssimas pessoas nas ruas.

Com o frio que estava fazendo, Carol me aconselhou a tomar um copo de Grzaniec z pomarancza, um delicioso vinho quente com laranja. Imagine que um vinho já esquenta, quando é servido quente então... Sem contar que os polacos não curtem bebida fraca. Com mais um copo chegava bêbada na casa dos pais dela.

Vinho e manufaktura

Sulejów


Cheguei era fim de tarde. Uma cidadezinha com cerca de 7 mil habitantes. Os pais de Carol nos esperavam com todo carinho do mundo. Fui tão bem recebida que até parecia estar chegando à casa de velhos amigos brasileiros. Mas eles nunca haviam me visto antes e muito menos falavam português, nem inglês (o que é bem normal na Polônia). A conversa era bem engraçada. Com minha pouca experiência na língua polaca, entendia algumas palavras e com isso, às vezes, compreendia sobre o quê eles conversavam antes da Carol traduzir.

A agonia e ansiedade de Malgo, mãe da Carol, em querer me dizer as coisas era tanta que ela conversava olhando em meus olhos e eu compreendia toda a emoção. Foi uma das experiências mais incríveis de toda minha vida.

Mais surpreendente ainda foi encontrar com a irmã e o sobrinho da Carol, Kate e John, em um pub. John estava ansioso pelo encontro e eu mais ainda. Um doce de menino de 6 anos. Estudou palavras em inglês para conversar comigo e até desenhou o brasão da República Federativa do Brasil (o qual muito brasileiro nem sabe como é) e meu nome em polonês. Fiquei apaixonada.


John, Kate, Carol e Thamara

O prato que a mãe da Carol fez foi delicioso, embora eu não coma carne de porco normalmente. É claro que eles não precisavam saber desse detalhe. A bebida foi um tanto, eu diria BEM, exótica. Chama-se Grzane Piwo. Sim, cerveja quente. É uma mistura fervida de cerveja com groselha. E não é que fica boa? No início o paladar é estranho, porque o gosto da cevada fica bem realçado, mas depois acostuma. Eles realmente são preparados para o frio que faz lá.

Piwo

Durante a madrugada acordamos para pegar carona com o tio da Carol até a Cracóvia, onde pegaríamos um trem até Oświęcim para ver um pouco da triste história da Polônia no campo de concentração Auschwitz I.

Auschwitz


Depois da Carol passar por um conflito interno, ela decidiu que deveria me levar até o campo de concentração. O caminho é feito de trem, num visual ao mesmo tempo fantástico e melancólico. Foi a terceira vez dela lá e, ainda assim, a dor permanece visível em seus olhos.

Havia um grupo de alemães em excursão escolar e cruzamos com eles algumas vezes, quando Carol falava sobre o horror que tinha daqueles que foram responsáveis por muita dor.

Logo ao entrar no Campo nosso humor muda drasticamente. Não tem jeito de não se emocionar, principalmente quando temos uma vítima direta daquela tragédia ao lado. Em cada cômodo, cada casinha, em cada minuto tinha a sensação de estar dentro de um filme ou de um livro cuja personagem principal era a tristeza. É impossível tentar descrever tudo aquilo. É inevitável sair sem um peso imenso nas costas. Carol disse ter sido a última vez dela.

Entrada de Auschwitz I - No letreiro está escrito "Arbeit Macht Frei" que significa "O trabalho liberta" 


Campo de Concentração Auschwitz I

Fomos apenas no Auschwitz I, por escolha da Carol e eu achei até bom. Com uma manhã dá para visitá-lo. A entrada é gratuita, mas é legal comprar um encarte com um mapa e a explicação de alguns pontos. Já se preferir visitar tudo, acredito que um dia inteiro seja suficiente. Para saber mais do Auschwitz II – Birkenau você pode conferir dicas no post Campo de Concentração Nazista: Auschwitz sob as lentes de Fernando Priamo.
De lá pegamos um ônibus até a estação de trem e fomos à Cracóvia.

Kraków


A antiga capital da Polônia tem muita história e igreja para se ver.  Logo que chegamos procuramos um mapa, e já adianto que os distribuídos de graça não são muito bons. Melhor pesquisar bem antes.

Na Cracóvia foi tudo muito rápido também. Demos uma volta pela cidade à tarde, é bem fácil fazer tudo a pé. O primeiro ponto turístico foi a Praça do Comércio, na cidade velha, que conserva o Sukiennice como um bom local para se comprar souvenirs. O principal é o dragão. Tem dragão de todos os tipos e preços, cada um mais lindo que o outro. Na Praça está também a Basílica de Santa Maria que lembra bastante Praga.

Sukiennice


Basílica de Santa Maria


Depois fomos ao tão esperado Monte Wawel, onde estão o Castelo Real, a Catedral da Cracóvia e o Covil do Dragão, cada um com uma forma. Tudo muito lindo à beira do Rio Vístula. Para visitar o entorno não paga nada, mas para entrar nas dependências reais, na Catedral e no Covil paga-se uma taxa.

O castelo era a residência da família real quando a Cidade era a capital da Polônia. Ele possui diversas estruturas independentes, como a bela catedral, que contém diversas capelas laterais e guarda os restos de reis e nobres poloneses. Muito bonito mesmo e rapidamente dá para ver tudo. Mas vale a pena parar um pouco para contemplar o Rio Vístula, a paisagem é sensacional.

Ao descer do Castelo aproveite para passar pela Igreja de São Pedro e São Paulo que é outro ponto turístico da Cracóvia.

Rio Vístula
Palácio Real


Catedral do Castelo


Ao fim do dia fomos para a casa de uma amiga da Carol que nos hospedou. O prato do dia foi Pierógi, que lembra tortellini, mas massa é diferente. São mini pasteizinhos com diversos tipos de recheio. É possível comprar no supermercado congelado e depois cozinha e frita, mas com pouquíssimo óleo, é só para dourar mesmo.

Pierógi


No último dia na Polônia, antes de voltar a Łódź fomos dar uma passada pelo bairro judeu. Estava nevando muito, então não consegui ver muita coisa. De qualquer forma aconselho dar uma volta por ali e comer uma Zapiekanki. Huummmm, só de lembrar me dá água na boca. É como se fosse uma pizza, mas é um pão gigaante com o recheio por cima. Delicioso demais. Vale o almoço porque é difícil dar conta de tudo.

Zapienkanki


Bairro Judeu



Igreja Judaíca



Depois de tanta correria voltamos para Łódź onde eu pegaria meu voo e deveria me despedir de uma amiga e de uma boa fase da minha vida que eu saberia jamais voltar.

Espero ter contribuído para algum roteiro de viagem e ter mostrado que a Polônia é um ótimo destino.

A música polaca indicada é a Jestés Szalona do Boys Szalona, adoro!



Gostou da viagem da Thamara? Quer contar sua experiência também? Entre em contato!

*Thamara Paiva é jornalista e morou seis meses em Portugal, na cidade de Covilhã, onde realizou seu intercâmbio acadêmico. 

Um comentário:

  1. adorei thamara! ainda mais porque depois nem nos encontramos mais e nem fiquei sabendo da sua viagem!
    gostaria de ter visitado a polônia também. no mais, chódzmy do baru na piwo!
    ;)

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