Por Jéssica Costa*
Aviso aos navegantes (que ainda estão com sua nau atracada em mares lusos, mas
em breve atravessarão o Atlântico novamente): o retorno não é fácil.
O vazio da falta eu sabia que estaria aqui. Mas, não fui
avisada desse sentimento de não-pertencimento que toma conta da gente. Ninguém
me contou que chegando em casa eu não conseguiria distinguir a chave do portão,
ou que eu estranharia o fato de só haver uma maçaneta no chuveiro.
É uma sensação estranha essa de viver uma vida que parece
não ser mais a sua. Confesso: é perturbador (pra não dizer desesperador) não
reconhecer mais o seu lugar no espaço. É como se desde então eu tenha a
capacidade de me adaptar a qualquer lugar, a vivenciar o que quer que venha
pela frente, a tornar todo problema menor do que de fato ele seja. Hoje sou
outra mesmo sendo a mesma. No presente momento, estou aguardando o tempo me
mostrar que ter as raízes no ar é mais divertido do que superficial.
Como palavra de conforto, digo: ainda é possível encher a
cara de requeijão. Existe o Street View para revisitarmos a rua onde moramos,
aquela praça que ficou coberta de folhas no outono, o rio que favorecia
caminhadas contemplativas e mergulhos dentro de si.
E mais: existe Oreo no Bahamas.
*Jéssica Costa é aluna do curso de História da
Universidade Federal de Juiz de Fora e realizou intercâmbio acadêmico em
Coimbra durante seis meses. Aqui, ela
conta como é a vida universitária na cidade.
**Quer saber mais sobre as sensações de se voltar para
casa após viver em um universo paralelo? Aqui eu
narro como foi a minha volta ao Brasil depois de seis meses morando em Porto.
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