quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mitos causam déficit de doadores de medula óssea

“Para o doador, a doação será apenas um incômodo passageiro. Para o doente, será a diferença entre a vida e a morte.” É assim que Rafael Mendonça, integrante da equipe de captação de doadores de sangue e medula óssea do Hemominas de Juiz de Fora, define esse tipo de doação. “Muita gente tem morrido por falta de doador de medula. Grande parte da população não sabe que um transplante pode salvar vidas. Campanhas tem sido feitas, mas há muitos mitos em relação a esse tema”, lamenta.

A medula óssea é um líquido amarelado e denso encontrada no interior dos ossos. Ela produz os componentes do sangue, incluindo hemácias (responsáveis pelo transporte de oxigênio na circulação), leucócitos (agentes do sistema de defesa) e plaquetas (que atuam na coagulação do sangue).

Com o tratamento de alguns tipos de câncer em que são utilizadas altas doses de medicamentos quimioterápicos ou de radioterapia, a medula óssea chega a ser destruída completamente. Em situações como essas, o transplante pode ser a única forma de cura.

O procedimento é simples: colhe-se uma pequena quantidade de células progenitoras da medula óssea do doador e injeta-se no sangue periférico, na veia do receptor. Por meio da circulação, essas células chegam ao interior dos ossos, e ali começam a se multiplicar para produzir os componentes do sangue. “Em 15 dias, o doador terá recomposto completamente sua medula óssea e estará apto para uma nova doação”, informa Rafael.

Baixa compatibilidade

As chances de se encontrar um doador compatível podem chegar a uma em 100 mil entre pessoas não aparentadas. Para irmãos, a compatibilidade é de aproximadamente 25%. Já os pais não podem ser os doadores pois possuem somente a metade da carga genética dos filhos.

Janaína Carvalho de Paula tem 17 anos e descobriu há cinco meses que possui leucemia aguda. Após tratamento com quimioterapia, recebeu a notícia de que precisaria fazer o transplante. Nenhum de seus três irmãos foram compatíveis e agora ela espera por um doador. “Quando recebi a notícia de que a minha única forma de cura era o transplante, fiquei um pouco assustada, mas me enchi de esperanças. Esperança de que ficaria boa e esse pesadelo logo acabaria”, conta Janaína.

Para que o pesadelo de Janaína acabe, é necessário que mais pessoas se cadastrem fazendo com que suas chances de compatibilidade aumentem. “Fico ansiosa, esperando que logo apareça um doador. É muito angustiante”, desabafa.

A coleta de medula é feita somente nas capitais e grandes centros, resultando em poucos leitos e filas de espera. Não é necessário que o doador vá onde o paciente está. Normalmente quem é de Juiz de Fora faz o processo de doação no Rio de Janeiro, São Paulo ou Belo Horizonte. Todas as despesas do doador e de seu acompanhante são pagas pelo Ministério da Saúde.

Pablo Millioni Rossi dos Reis acompanhou a luta de uma amiga contra um câncer. Não foi compatível com ela. No entanto, ao ir para o banco de dados do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), ligado ao Instituto Nacional de Câncer (Inca), descobriu ser compatível com outro paciente. Ele fez a doação no Rio e conta que não teve despesa nenhuma. “O SUS recebe tantas críticas. Eu tive um ótimo atendimento e fiquei impressionado com a eficiência de toda a equipe”. Segundo ele, o transplante foi indolor. “Eu não tive nenhum efeito colateral e nem senti dor. E é tão pouco que tiram da gente para um benefício tão grande. É obra de Deus mesmo, porque o doador não faz nada demais”, argumenta Pablo Millioni.

Procedimento

Há duas formas de se remover a medula do doador: punção no osso da bacia e aférese. A primeira é um procedimento de 90 minutos realizado sob anestesia. Já a aférese é a coleta por via periférica, que se assemelha a uma doação de sangue. Neste último caso não necessita internação nem anestesia. “Quem define o processo é o médico. O procedimento mais usado é o de punção, pois na bacia se encontra a medula pura. Por esse motivo, ele é mais eficaz”, explica Rafael.

No Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), já é realizado o transplante autólogo, no qual é utilizada a medula do próprio paciente. Parte dela é retirada antes da quimioterapia, para ser recolocada depois. No entanto, como a leucemia é uma enfermidade que afeta a medula, é muito difícil conseguir que essas células estejam absolutamente livres da doença. Pode acontecer, então, que elas se proliferem e a doença volte.

De acordo com o chefe do Serviço de Hematologia e Transplante de Medula Óssea do HU/UFJF , Ângelo Atalla, a instituição começará, em 2012, a fazer também transplantes com medulas de doadores, aumentando assim o número de leitos. Ele estimula as pessoas a doarem. “Uma trombada de futebol dói mais que a coleta de medula”, completa Atalla.


Como ser um doador

Segundo dados do Inca, hoje existem cerca de 630 mil pessoas cadastradas como doadoras voluntárias de medula óssea no Brasil, enquanto os Estados Unidos possuem sete milhões de americanos inscritos. Para aumentar esse número é muito simples:

* Pode ser doador de medula óssea, qualquer pessoa entre 18 e 55 anos com boa saúde.
* Para se cadastrar basta preencher um formulário com dados pessoais e é coletada uma amostra de sangue com 5ml para testes.
* Estes testes determinam as características genéticas que são necessárias para a compatibilidade entre o doador e o paciente.
* Os dados pessoais e os resultados dos testes são armazenados em um sistema informatizado que realiza o cruzamento com dados dos pacientes que estão necessitando de um transplante.
* Em caso de compatibilidade com um paciente, o doador é então chamado para exames complementares e para realizar a doação.

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