quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Campo de Concentração Nazista - Auschwitz sob as lentes de Fernando Priamo

"Parecia que a SS (organização paramilitar ligada ao partido nazista e a Adolf Hitler) iria entrar pela porta e ordenar minha execução. Era uma manhã de outono na Polônia, tudo era cinza, e o frio castigava os inúmeros visitantes. Olhei para cima, tentando fazer a leitura da luz e observei que o céu chorava, as lágrimas estavam em forma de garoa fina, que deixava a paisagem ainda mais pesada. Respirei fundo e me coloque a fotografar...

Através das lentes de minha câmera, o filme de horror nazista se repetia em silêncio, a emoção me arrebatava a cada click; sentia uma angústia profunda, e as lágrimas não demoraram a cair (como aquela garoa lá fora). Era como se cada um dos milhares de mortos naquele local tentasse me pedir ajuda, uma sensação horripilante e amedrontadora.


Ao empunhar a câmera para registrar tudo, sabia que minhas imagens repetiam algo visto e compartilhado pelos quatro cantos do planeta, mas minha missão ali era nobre: levar um grito de PAZ para Juiz de Fora, minha cidade natal e, através das fotografias, dizer um BASTA a todo tipo de injustiça e intolerância. Queria, naquele momento, colocar em cada foto toda minha indignação e repúdio à violência, fazendo com que minhas imagens clamassem por justiça, anexando a cada uma delas a bandeira com o pedido de PAZ."


Porta do Inferno - Auschwitz II - Birkenau
Entrada dos trens que transportavam os prisioneiros

Foi assim que o repórter fotográfico da Tribuna de Minas Fernando Priamo descreveu sua visita à Auschiwitz I e II (Birkenau), campos de concentração nazista onde morreram cerca de 1,5 milhão de pessoas.

Desde o momento em que Adolf Hitler assumiu a liderança política da Alemanha, começou a proclamar a necessidade de se exterminar alguns grupos indesejáveis da sociedade alemã para que o país pudesse se recuperar das humilhações sofridas após a I Guerra Mundial e das consequências da crise econômica de 1929. O momento era muito crítico na Alemanha dos anos 1930, os alemães estavam humilhados pela guerra, revoltados e viram em Hitler a esperança de uma recuperação da nação e depositaram nele toda a confiança. De fato, Adolf Hitler conseguiu reerguer a Alemanha, tirando-a do cenário catastrófico que se encontrava, mas sempre apresentando uma postura radical.

Em 1939, rompeu de vez o clima de instabilidade presente na Europa e uma nova guerra mundial teve início. Foi então que os alemães começaram a construir os campos de concentração nazistas. Foram três os campos principais auxiliados por mais trinta e nove. Localizavam-se nas cidades de Auschwitz Birkenau, próximas da capital polonesa Cracóvia.

O campo de concentração nazista Auschwitz I era o centro administrativo dos campos, é nele que se localiza a famosa placa com a frase “Arbeit Macht Frei” (O trabalho liberta). O campo serviu mais para utilização do trabalho forçado dos prisioneiros, mas foi nele que os nazistas testaram a primeira câmara de gás

Auschwitz II foi construída com o objetivo exclusivo de extermínio. É este o campo mais conhecido pelas pessoas e onde mais se matou pessoas. Era equipado com quatro crematórios e câmaras de gás, as quais podiam receber, cada uma, cerca de 2.500 pessoas por vez.

Já o campo de concentração nazista Auschwitz III, o terceiro entre os três principais, foi utilizado especialmente para trabalho escravo pela empresa IG Farben.

Este complexo envolvendo os três campos de Auschwitz foi o maior entre os dois mil campos de concentração e trabalhos forçados construídos pelos nazistas.

Câmara de gás

Para falar sobre Auschwitz, combinei com o fotógrafo Fernando Priamo uma entrevista no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, onde se encontra a exposição "Retratos de Auschwitz. A arte em busca da paz", que compõe o projeto Foto 13.

Ao entrar na exposição, é como se você entrasse no túnel do tempo e se transportasse para Auschwitz de 1940. Toda a exposição foi cuidadosamente preparada para te levar a esse mundo de horror: fotos em preto e branco, cercadas por arama farpado e com reprodução da placas de aviso de cerca elétrica. Difícil é não sair de lá chorando e impactado com as fortes cenas e histórias que você vai encontrar.

Exposição "Retratos de Auschwitz: a arte em busca da paz"


Abaixo, a íntegra da entrevista realizada com Priamo.


Kelly: Ao entrar no campo de concentração nazista de Auschwitz, o que te chocou, o que te impressionou mais?
Fernando: Foi a forma como o campo está preservado e a história em si. Como a gente já conhece a história, você começa a sentir o que os presos sentiam, você começa a imaginar o que eles estavam passando e a presença das pessoas, a presença dos soldados é muito forte lá ainda. Você começa a fotografar com uma carga de angústia muito grande. E quando você vê, está chorando. Você está completamente envolvido na situação. Parece que você está sendo vigiado o tempo todo. Parece que tem alguém atrás de você.

Por que colocar as fotos em preto e branco?
Eu já captei as fotos em preto e branco. Quando eu fui visitar o campo, eu já tinha a ideia de fazer uma exposição para as escolas municipais. O preto e branco remete a um lugar que não pode ter cor, porque não teve vida, teve morte. Eu não posso dar uma alegria a um lugar que só causou morte e tristeza. O preto e branco vai nos trazer um pouco da realidade que é Auschwitz.

Das histórias que você ouviu por lá, qual te tocou mais?
A que me deixou mais emocionado foi a do Frei Maksymilian Maria Kolbe. Foi um frade franciscano que, em 1982, foi canonizado pelo Papa João Paulo II. Ele trocou a vida dele pela de um prisioneiro, pai de família. O frade foi condenado a morte, como as outras pessoas do campo de concentração nazista. Como tinham duas semanas que ele estava na célula de fome e não morria, lhes deram uma injeção de ácido para ele morrer. A forma como ele se doou foi marcante. E isso lá é muito forte. Como a Polônia é um país católico, eles veneram o frei.

Célula de fome do Bloco 11 - Onde morreu São Maximiliano

Você conversou com algum polonês sobre o campo de concentração nazista?
O guia que estava com a gente era polonês e falou um pouco do que os eles passaram e como lidam com Auschwitz. A história da Polônia é uma história muito triste. Anos e anos a Polônia vem sendo dominada por vários impérios. Ela vem sendo agregada a outros países. Então, o sentimento do polonês de se fortalecer e dar a volta por cima é muito grande. Eles deixam esses campos lá como uma marca de que eles se livraram do nazismo, se livraram do comunismo. E hoje a Polônia só tem crescido.

Dessas fotos, qual você gosta mais?
Não tem uma que eu goste mais. Eu acho que todas fazem parte de um grande conjunto. Porque essas fotos não são fotos para se deixar expostas em casa. São fotos que você leva para uma escola, porque tem um viés didático muito grande. Uma foto só não conta a história, porque essa história é muito rica.

Você doou essa exposição para alguma escola específica?
Eu doei essa exposição toda para a Funalfa. A Funalfa vai fazer uma parceria com a Secretaria de Educação e essas imagens vão percorrer as escolas que quiserem a exposição lá. Assim, os professores vão poder mostrar as consequências da falta de respeito, da desigualdade social. Aushwitz é a consequência da falta de humanidade, respeito, igualdade, solidariedade, de justiça. O campo de concentração nazista é o máximo desse tipo de falta. Eu acho que é isso que os professores deveriam mostrar. A intolerância que a gente tem uns com os outros. A desigualdade social. Aushwitz é um grande acontecimento que agrega essas coisas que pingam na nossa sociedade isoladas, mas que se forem colocadas juntas, se tornam uma Aushwitz. É esse o objetivo da exposição. Fazer as pessoas refletirem sobre como a gente lida com o mundo hoje, como a gente lida com o nosso semelhante. Aushwitz é uma ferida que não cicatriza e nem pode ser cicatrizada porque senão a gente esquece e volta a cometer os erros que os alemães cometeram na Segunda Guerra Mundial.

Em qual palavra você resume Auschwitz?
Desumano. Essa palavra agrega todas as outras.



Mesmo a Alemanha sofre com esse passado negro de sua história. Lá não existe um símbolo da nação. Eles se sentem coibidos em ser nacionalistas. É uma dívida que eles tem com a sociedade e da qual eles tentam se redimir.


No Museus, se encontram os pertences das crianças deportadas para Auschwitz para extermínio.

Evidências de crime - boneca e sapato de criança

No museu está exposta uma das mais chocantes provas do crime - cerca de duas toneladas de cabelos de mulher, cortados das vítimas.

Evidências de Crime - cabelos de mulher


Esses sapatos pertenciam às pessoas deportadas para Auschwitz para exterminio.

Evidência de crimes - sapatos

Durante a Segunda Guerra Mundial, vários médicos alemães realizaram “experiências” desumanas, cruéis, e muitas vezes mortais em milhares de prisioneiros dos campos de concentração. Os cientistas testaram agentes imunizantes e soros para prevenir e tratar doenças contagiosas como a malária, o tifo, a tuberculose, a febre tifóide, a febre amarela e a hepatite infecciosa, inoculando os prisioneiros com tais doenças. Os médicos também testaram diversos métodos, com o objetivo de desenvolver um procedimento eficaz e barato de esterilização em massa de judeus, ciganos, e outros grupos considerados pelos nazistas como racial ou geneticamente indesejáveis.

O principal médico do campo de Auschwitz foi Josef Mengele, que torturou e matou milhares de pessoas em nome da ciência nazista. Os poupados da morte imediata eram enviados para o "zoológico", os barracões onde ficavam as cobaias humanas de seus experimentos. Entre eles, havia principalmente irmãos gêmeos, anões e portadores de deficiências físicas. O "Anjo da morte", como ficou conhecido, dissecava pessoas vivas, amputava pernas e braços de crianças, sem anestesia nenhuma, para tentar, sem sucesso, regenerá-los. Com injeções, tentava injetar tinta azul em olhos de crianças para alterar a cor, mas só provocava infecções ou cegueira, jogava prisioneiros em água fervente ou extremamente gelada para ver o quanto suportavam. Era fascinado por gêmeos. Injetava o sangue de um em outro, de tipo sanguíneo diferente, para ver a reação e também literalmente costurava gêmeos para tentar criar artificialmente gêmeos siameses!


Crematório - um dos três fornos construídos no crematório de Auschwitz I



Sela onde os prisioneiros ficavam de pé, sem espaço para sentar, durante toda a noite.



Fernando Priamo: Rudolf Franz Ferdinand Höß foi o comandante do campo de concentração Auschwitz-Birkenau, onde foi julgado e condenado à morte. Ele foi enforcado no próprio campo. Ele morava lá com a família. A esposa dele adorava o campo de concentração.

Quando o campo virou museu e a forca foi construída no local onde o comandante foi enforcado, colocaram junto uma foto de Höß. As pessoas que iam visitar o campo começaram a jogar pedra, cuspir na foto tamanha era a revolta.

Forca onde o primeiro comandante de Auschwitz foi enforcado em 1947
Quem quiser visitar a mostra, ela se encontra no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas na Avenida Getúlio Vargas, 200 - Centro. A exposição fica aberta de terça a sexta-feira – das 9h00 as 21h00 / sábados e domingo – das 10h00 as 21h00.  A mostra ficará exposta no espaço Bernardo Mascarenhas somente até o dia 13 de setembro.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Glamour e a Beleza da Semana da Moda de Milão



De Veneza seguimos para Milão. E, se já não bastasse estar na capital da moda, tivemos a sorte de estar na cidade na Semana da Moda de Milão. Juro que foi coincidência. Não programamos a data para isso, nem sabíamos que era a Semana da Moda de Milão até chegar à cidade.

Bem, essa chegada foi um caos. Descemos na estação de trem Centrale, a mais importante das várias de Milão. Construída no início do século, a estação tem um ar parisiense (como depois vocês vão ver em vários outros aspectos da cidade). Seguimos andando até o nosso hotel que era muito, mas muito, mas muitooooo longe mesmo. Foi tenso chegar até lá. E para piorar, o hotel não era como todos os outros hotéis que ficamos na Itália. Não tinha um quarto só para a gente, não era tão limpinho e ainda tivemos o azar de dividir o quarto com um cara super doido e mal humorado. Aff! Pena eu não lembrar o nome do hotel para não recomendar!

No entanto, isso não atrapalhou que a nossa estadia em Milão fosse maravilhosa. Como tínhamos 2 dias na cidade, não ficamos apressadas. Conseguimos conhecer cada ponto turístico da cidade da forma mais tranquila possível.

Primeiro dia na Semana da Moda de Milão


No primeiro dia fomos passear pelo centro da cidade. O primeiro ponto turístico em que passamos foi o Teatroalla Scala. A sua fachada não tem nada demais, ele é mais famoso do que bonito. Então, nem tivemos muita curiosidade de entrar. Mas o teatro pode ser visitado. A entrada custa em torno de EUR 32,00. Os ingressos são vendidos mais baratos 45 minutos antes dos espetáculos. E a plateia do teatro é em forma de ferradura.

Na Piazza alla Scala, em frente ao teatro, encontramos uma estátua de Leonardo da Vinci. Nas costas da estátua fica a bela fachada do Palazzo Marino, que infelizmente não pode ser visitado, mas pode ser admirado. Nessa praça, conhecemos um italiano muito engraçado. Ele resolveu ler a nossa mão. E acreditem que ele falou que eu sou uma mulher caprichosa! Vê se pode. Já a Thamara se deu bem. De acordo com o italiano, ela vai encontrar o amor no Canadá! Risos.

Seguimos para a Galleria Vittorio Emanuele, onde estão localizadas várias lojas italianas de renome mundial como Prada, Louis Vitton e todas essas lojas de marca que deixam as mulheres enlouquecidas. É lá que os turistas e os milaneses abastados vão para ver e serem vistos. Há um mosaico de touro no piso do centro da Galleria. Diz a lenda que se você conseguir girar dando uma volta inteira, colocando o calcanhar sobre os testículos do bicho terá sorte por um ano. Olha eu pagando esse mico lá! Pelo menos, eu tive sorte no ano de 2012 e está durando até hoje!

Girando no boi para ter sorte

Galleria Vittorio Emanuele

A Galleria desemboca no coração de Milão: a praça Duomo. Além de demarcar o centro absoluto da cidade, é em volta desta belíssima igreja que tudo acontece. Nas imediações do templo, ficam vários restaurantes, bares e lojas. O Duomo de Milano é a catedral da cidade e a maior catedral da Itália! As dimensões desta igreja gótica são impressionantes, assim como a sua cor, já que a fachada é quase toda feita de mármore branco. O teto da catedral é famoso pelos seus terraços, de onde se tem vistas magníficas de Milão, e pode-se ver mais de perto os detalhes do topo da construção. O preço do ingresso, subindo de elevador, é €8,00, e pelas escadas, €5,00. Optamos por não subir, lembrem-se que estávamos no final da trip e a grana estava curta.

Apreciar a fachada da Catedral é uma prova de obstáculos. Impedir que te ponham milho na mão para os pombos comerem ou que te amarrem uma pulseirinha no braço e depois cobrem, requer muita agilidade. Mas o esforço vale a pena. Não consegui evitar a pulserinha no braço, ficou de lembrança.

Catedral de Duomo

Seguimos em um passeio pela cidade. Passamos por outros pontos turísticos apontados no mapa, mas nada muito famoso ou diferente. A cidade é linda. E, mesmo sem procurar, pois nenhuma de nós é ligadas em moda, trombávamos a todo o momento com algo relacionado a Semana da Moda de Milão. Em frente a loja da Ferrari, havia um desfile de moda. Claro que paramos para observar. As modelos de lá são muito, mas muito magras. As pernas delas são do tamanho do meu pulso. Na Galleria Vittorio Emanuele, cada passo que dávamos, nós cruzávamos com alguma modelo. Não tem como não reconhecer. Elas tem características muito similares. Traços finos e parecidos, postura esguia, mega altas e magras. É encantador. É impossível desviar os olhos ao vê-las. Elas nem são tão bonitas, mas há um mistério no olhar, uma elegância. Impossível não admirá-las. Ali estavam as melhores modelos de passarela do mundo.

Desfile da Milano Fashion Week

Depois de fazer uma visitinha na loja da Ferrari que estava em promoção e comprar uns presentinhos, seguimos para o mundo mágico da Disney. Fiquei deslumbrada com a loja. Dava vontade de comprar tudo, brincar com tudo. Era tudo encantadora. As crianças devem enlouquecer naquele lugar.


Deslumbradas com a linda loja da Disney

E claro que eu brinquei com vários brinquedos de lá!

Também passamos pela loja do Milan. E olha que fofo a mascote da loja!



Segundo dia na Semana da Moda de Milão


No segundo dia, seguimos em direção ao Castelo Sforzesco e adivinha o que estava rolando lá? Exatamente, outro desfile da Semana da Moda de Milão, com direito a presença da maior emissora local.

Outro desfile da Milano Moda Donna


O Castelo Sforzesco é uma estrutura impressionante, possivelmente o mais interessante ponto turístico de Milão, depois do Duomo. O castelo foi erguido para proteger a família que dominava o ducado de Milão naquela época. Não deixe de dar uma volta completa ao redor e conferir toda a grandeza do Sforzesco antes de entrar. Existem três pórticos, e a entrada principal tem uma fonte enorme, perfeita para se refrescar nos dias de calor.

Castelo Sforzesco


A entrada do castelo é grátis, e dá para conhecer o pátio interior sem pagar nada. Se você quiser visitar os diversos museus que ficam lá dentro (alguns abrigando as mais importantes coleções de arte de Milão), terá que pagar a entrada de apenas EUR 3,00. Dizem que a iluminação noturna, independente da época do ano, é incrível, mas não fomos conferir.

Atravessamos o castelo e paramos no Arco della Pace, um Arco do Triunfo parecido com o de Paris, só que em miniatura perto deste. O Arco fica na Porta Sempione, que funciona como “porta de entrada” para o Parque Sempione. A estrutura é feita de diversos materiais, entre eles mármore, bronze e madeira, e é de uma riqueza de detalhes impressionante. O lugar onde o Arco da Paz se encontra marca o início da antiga Strada del Sempione, uma estrada antiga, que ligava Milão à Paris.

Arco della P


Fomos a um mercado, compramos alguns petiscos e fomos comer no Parque Sempione, quase um piquenique, uma tarde muito agradável. Próximo de lá, há um lago, que tem uma ponte romântica, perfeita para fotos.

Ponte Romântica do Parque Sempione


Na volta passamos pelo Parco delle Basiliche. O parque foi batizado assim por causa das igrejas em sua proximidade, San Lorenzo e Sant Eustorgio, a igreja mais antiga de Milão, construída no século IV, e a maior atração turística da área. A história da igreja é bastante interessante, e, segundo a lenda, o lugar onde ela foi construída foi escolhido porque os animais que carregavam as carroças com os restos mortais dos Três Reis Magos, trazidos de Constantinopla por São Eustórgio, empacaram ali e não se moveram mais. Após séculos sendo guardadas na mesma igreja, as relíquias foram levadas pelo Imperador Romano Frederico Barbarossa para Colônia, na Alemanha, onde estão até hoje.

Igreja de San Eustorgio

E termina aqui a nossa trip. De Milão embarcamos para Porto arrumar as malas para voltar ao Brasil.

Abaixo, a música que marcou esses 20 dias de mochilão em homenagem ao meu celular que tocava a música por todos os passeios turísticos e recebeu o apelido carinhoso de Dom Bosco.




domingo, 18 de agosto de 2013

Carnaval em Veneza - Um baile de Máscaras




Eram os últimos cinco dias de viagem e estávamos todas cansadas, destruídas, com todas as roupas sujas e fedidas de Budapeste (relembre aqui). Chegamos de madrugada na estação de trem e depois de uma longa conversa, decidimos não ir mais a Veneza, encurtar a viagem e ir direto à Milão, esperar nosso voo de volta ao Porto. Foram 20 dias de país em país, cidade em cidade, hostel em hostel, carregando mala pesada e cheia de casacos pelo corpo. Não aguentávamos mais essa rotina. Não tínhamos um tostão no bolso. Queríamos ir para casa tomar um longo banho, colocar um pijama cheiroso e quentinho e dormi na nossa cama.

No guichê, pedimos três passagens para Milão pela Trenitália a serem pagas no cartão de crédito do pai da Thamara. Ninguém tinha dinheiro. Mas na hora H, lembramos que era CARNAVAL e que essa poderia ser nossa única chance de conhecer o Carnaval mais famoso da Europa. Pensamos: já chegamos até aqui, uma cidade a mais, uma a menos, não fará diferença. E lá fomos nós, felizes e curiosas passar o Carnaval em Veneza.

Chegamos em nosso hotel na cidade de Mestre, apenas 8 km, 17 minutos e 5,00 euros nos separavam de Veneza. E nosso hotel era simplesmente LINDO! E barato, apenas EUR 14,00. Tomamos banho, nos arrumamos, ficamos todas lindas para levantar nossa auto estima e fomos felizes desbravar aventuras em Veneza.

Nosso quarto no hotel em Mestre

Antes de começar a falar de Veneza (eu sei que já enrolei bastante e você quer mesmo é saber como é a cidade, mas tenho que contextualizar nossa situação), vou explicar como estávamos financeiramente. Durante nossa trip, praticamente o dinheiro de cada uma era de todas. Em Budapeste, meu dinheiro e o da Thamis acabaram. Sobrevivemos Pisa e Florença com o dinheiro da Chris. Quando chegamos em Veneza, o dinheiro da Chris também havia acabado. Mas nós passaríamos os últimos dias com o dinheiro que minha mãe tinha depositado na minha conta e cairia exatamente na terça-feira.

Chegamos no centro de Veneza e estávamos encantadas com tudo. Quando fui sacar, minha conta estava zerada. O que aconteceu? Foi aí que lembramos que era terça-feira de Carnaval, feriado no Brasil. O dinheiro só iria cair no dia seguinte (cara de tristeza).

Tivemos que controlar nosso impulso consumista e desesperado por compara um máscara de Veneza. Mas nada disso atrapalhou nossa diversão nessa incrível cidade. Com os últimos EUR 3,00 da Chris, compramos três gelatos deliciosos. E limpando os EUR 4,00 do VTM da Thamis, compramos duas garrafas de vinho vagabundo que foram a garantia da nossa diversão.



Diferentemente dos outros posts, não conseguirei falar dos pontos turísticos de Veneza. Não tínhamos mapa, nem guia, nem nada. No Carnaval de Veneza, você simplesmente segue o fluxo. E isso é uma delícia. As ruas ficam lotadas! Depois de entrar na rota para a  Piazza di San Marco, não tem volta. Tem que seguir o fluxo. É MUITA gente! Mas MUITA gente mesmo! É tudo LINDO, ENCANTADOR, ROMÂNTICO, SURREAL! Eu estou em uma missão impossível aqui, porque não tem como descrever essa encantadora cidade. Veneza nem estava nos meus planos de viagem pela Europa. Ouvi de muitas pessoas que a cidade fedia e nem era tão bonita assim. MENTIRA! Não é bonita, é MARAVILHOSA! Obrigada Chris por insistir tanto que passássemos o Carnaval em Veneza. Tenho que admitir que a atmosfera de Carnaval deixou tudo 100 vezes mais bonito e encantador. Todos estavam fantasiados. Jovens, velhos, crianças, adultos. TODOS. O Carnaval em Veneza é um grande Baile de Máscaras. E eles se vestem com aquelas roupas elegantes do século XVII. É deslumbrante. Abaixo segue uma sessão de fotos para vocês sentirem a atmosfera e entrarem no clima do Carnaval de Veneza.





Seguíamos o fluxo sem nem ter ideia de onde íamos parar. Íamos andando, admirando os canais, as gôndolas. Tirávamos fotos com as pessoas que estavam fantasiadas, ríamos e, principalmente, subíamos e descíamos pontes. Você vai cansar de atravessar tantas pontes. Quando, do nada, um som de sirene: - Gente, como o carro da polícia vai conseguir passar por essa multidão. Nem cabe um carro nessa ponte. Quando surgia pelo canal o barco da polícia (risos). Veneza é a cidade mais inusitada na qual já estive. Olha o ponto de táxi da cidade:



Você deve estar se perguntando se eu andei em uma dessas românticas gôndolas. Não. Infelizmente eu não andei. Primeiro porque não tínhamos nem EUR 0,01. Segundo porque era Carnaval!



Quando chegamos no final da rota que caia na Piazza di San Marco, havia um imenso palco do Hard Rock Cafe. E a praça estava lotada aguardando o início do show de Carnaval. E eu e Thamis bêbadas. Sério! Conseguimos ficar bêbadas com EUR 4,00 no Carnaval de Veneza. Nesso momento, tudo era só alegria.

Eu, Thamara e Chris nos perdemos uma da outra não sei como e nem porque. Não me lembro (meninas, se vocês se lembrarem o que aconteceu para a gente se perder, comentem aqui). Só lembro de ter feito muitas amizades no banheiro. E algumas horas depois, também não sei como, conseguimos nos reencontrar no meio da multidão. Ficamos no meio da praça entre os Voitures.



Eu comecei a sentir os efeitos negativos da bebida. Fui no banheiro do café mais elegante da praça. Desses com escadaria dourada, carpete vermelho, prataria e tudo mais. Saí do banheiro, sentei na escada e ... (quem adivinha?) Isso mesmo. Passei mal naquele belíssimo carpete. Eu não me lembro se deu tempo da Thamara me socorrer com uma sacola ou se foi tudo no carpete mesmo. Um mega mico. Eu sei. Foi feio. Eu sei. Mas, virou história. E, enquanto eu passava mal, acreditam que a Thamara paquerava?!! Menina esperta. Sim. Tem fotos desse momento lamentável e de outros igualmente lamentáveis dessa noite. Não. Eu não irei publicá-las aqui.

Nisso tudo, já era hora do nosso último ônibus de volta ao hotel em Mestre. Não sei como chegamos no ponto onde era possível pegar o nosso ônibus, porque as ruas e pontes de Veneza são um labirinto. É muito fácil misturá-las e se perder por ali, ainda mais à noite. Só sei que no caminho ainda fiz amizade com uns italianos simpáticos e aprendi a famosa musiquinha deles:

"Bevo, bevo, bevo, bevo, bevo, mi ubriaco e son felice, anche se poi vomito!"

Por mim, doida como estava, voltava com os italianos para a farra. Mas, graças a Deus, tínhamos a Chris sóbria, nossa consciência, para nos convencer a ir para o hotel.

E assim acabou nossa visita a Veneza. Um dia apenas. Mas um dia inesquecível.

No próximo post nos encontraremos em Milão. Não em um dia qualquer. Mas simplesmente na Semana da Moda de Milão. Até lá!


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Florença – A Capital do Renascimento

Ponte Vecchio

Após uma visita de médico a Pisa, fomos para Florença conhecer a capital do Renascimento. Já vou adiantando que eu estava na minha fase de TPM e choveu nos três dias que ficamos por lá. Assim, Florença foi uma das cidades que eu menos gostei na nossa Trip e tenho certeza que eu não saberei relatar com fidelidade essa cidade que todos amam e dizem ser encantadora. Não me culpem. Como dizem: Quem faz a festa somos nós e nosso estado de espírito. Acontece o mesmo com as viagens. É o nosso estado de espírito que faz com que nos encantemos ou não com determinadas cidades.

Bem, como chegamos tarde de Pisa, seguimos diretamente para o Hostel (que não me lembro qual é e nem quanto pagamos, mas era próxima da estação de trem Santa Maria Novella, a qual descemos) e dormimos.

Segundo dia em Florença


No dia seguinte, fomos em direção ao ponto turístico mais famoso de Florença: Il Duomo – Catedral de Santa Maria del Fiore. No caminho, passamos pela Basílica di San Lorenzo. As igrejas italianas costumam ter fachadas impressionantes, mas, San Lorenzo foge à regra. A fachada nunca foi terminada, e dizem que seu exterior não faz justiça aos tesouros encontrados lá dentro. A parte mais famosa da basílica é a Capela dos Medici, onde estão as tumbas da família. Os Medicis é a dinastia responsável pela ascenção de Florença ao status de uma das cidades mais importantes do mundo. Mas, infelizmente, só fiquei sabendo disso depois de voltar ao Porto. Até a foto da Basílica tiramos com má vontade, olha só.

Basílica di San Lourenzo

Chegamos a Catedral Duomo, cujo início da construção foi em 1296, e essa sim tem uma belíssima fachada em mármores de várias cores, além de portões de bronze, adornados com mosaicos que retratam cenas da vida de Maria. Lá dentro, existem pinturas e afrescos importantes, como a Divina Comédia de Dante, de Domenico di Michelino e vitrais feitos por artistas italianos famosos, como Donatello. No exterior da cúpula, há um terraço que oferece panoramas de Florença e da região da Toscana – acredito que em dias de sol essa visão seja maravilhosa, sorte essa que eu não dei. O ingresso que dá acesso ao terraço do Duomo custa EUR 8,00

Catedral Duomo

Um dos portões da Catedral de Duomo

Depois fomos dar uma passeio pelo centro antigo. Todas as principais atrações ficam concentradas nessa parte da cidade. Em Florença, se respira o renascimento. Por onde quer que você olhe há alguma escultura, algum monumento que remete a esse período da história da arte. Na própria Praça do Duomo você encontra o Battistero que é a construção mais antiga do centro histórico e o Campanile, cuja a  torre do sino da catedral tem 82 metros de altura. Não tem elevador de acesso, mas dá para subir de escada.

Terceiro dia em Florença


No terceiro dia, passeamos pelo lado oposto ao centro histórico. Não há muitos pontos turísticos famosos nesse lado da cidade. Mas há jardins e praças encantadoras e há um forte também. Só não lembro o nome desses lugares. Na volta, passamos pela Basílica di Santa Maria Novella, uma construção gótica, mas com fachada renascentista.

Eu, Thamara e Chris passeando pelos parques e praças


Basílica di Santa Maria Novella

Continuamos caminhando pela cidade e passamos em frente a loja da Ferrari e, claro, tivemos que honrar a grandiosidade da marca e entrar para  tirar foto com a Ferrari de algum piloto famoso (depois de se tirar foto com a Ferrari do Schumacher em Roma, nenhum outro piloto interessa mais).

Entramos no Hard Rock Café como de costume em nossas viagens e o de Florença deu um banho de beleza e glamour em todos os outros em que já estive.

Loja da Ferrari e Hard Rock Cafe


O Hard Rock Café fica na Piazza della Repubblica. Talvez muitos a excluiriam do tour, mas a considero um dos locais mais mágicos da cidade. Uma atmosfera sonhadora formada por um belíssimo arco, um lindo carrossel clássico, ricos palácios de 1800, hotéis de luxo e cafés tradicionais. Além disso, é um dos redutos comerciais mais elegantes de Florença.

Quarto Dia em Florença


O primeiro ponto turístico que fomos no quarto dia foi ao Palazzo Vecchio que, por estar próximo da famosa Galleria Uffizzi, às vezes é esquecido pelos turistas. O prédio medieval domina a paisagem da Piazza della Signoria. Dentro dele fica um museu e a prefeitura de Florença, e o palácio serviu também de residência para a família Medici. Os salões do palácio são cheios de obras de arte, que vão de esculturas de Michelangelo e Donatello à pinturas de Da Vinci. A entrada é de apenas €6,00.

Mesmo sem entrar no Palazzo Vecchio, a Piazza della Signoria por si só já é uma bela atração. Nela há a Loggia dei Lanzi, uma galeria que tem diversas esculturas de mármore, algumas delas de renome mundial, como o “Rápto das Sabinas”, de Giambologna e “Perseu com a cabeça da Medusa”, de Cellini. Uma outra atração imperdível da praça é a Fonte de Netuno, que tem uma estátua impressionante do deus dos mares. E há também uma cópia da famosa escultura de David. A praça oferece paisagens deslumbrantes e não há nada melhor do que sentar em um dos seus cafés, ou até mesmo nas escadarias da Loggia dei Lanzi, para ver o movimento de pessoas e apreciar a arquitetura fenomenal do lugar.

David, Fonte de Netuno e Piazza della Signora


O próximo ponto turístico em que fomos foi a famosa Ponte Vecchio, da época do Império Romano, a primeira ponte medieval a atravessar o rio Arno. A história dessa ponte é tão encantadora que merece ser contada. Em 1442, as autoridades locais queriam manter a região central limpa e, para isso, mandaram todos os açougueiros se instalarem na Ponte Vecchio. Assim, as carnes podres poderiam ser descartadas diretamente no rio. E dessa forma permaneceu até 1565, quando palácios foram construídos próximos a ponte. Em 1593, não aguentando mais o odor, Ferdinando I ordenou que o comércio pouco nobre fosse substituído por joalheiros e ourives, até hoje existentes no local. A Ponte Vecchio impressionou até Hitler. Durante a Segunda Guerra Mundial, todas as pontes de Florença foram destruídas pelos alemães, com exceção da Ponte Vecchio, que foi preservada por ordem do ditador.

Ponte Vecchio

Atravessamos a ponte e seguimos em direção ao Forte Belvedere. Andamos muitooo, subimos vários morros. O Forte fica no ponto mais alto da Colina de Bobori. Quando finalmente chegamos lá em cima, (quack, quack, quack - gongada de pato) o Forte estava fechado. Dizem que no Forte é um dos lugares mal assombrados da Itália. Nele, os espectros das bruxas clamam por justiça séculos depois das torturas e mortes nas fogueiras. Infelizmente, só saberei essa história numa próxima visita a Florença.

E assim passou nosso último dia na cidade. No dia seguinte, madrugamos para ir curtir o Carnaval em Veneza! Até lá!