terça-feira, 15 de junho de 2010

A arte de torcer sem se iludir



O futebol veio para o Brasil em 1895 e conquistou o país tão logo foi difundido. Por ser um esporte de grande apelo populacional, união e paixão nacional foi utilizado por muitos governantes como manobra política.

Seja pela diversidade étnica do país ou pela forma democrática que o esporte apresenta. A integração nacional em torno de um mesmo ideal mostra como a força da idolatria por um time pode modificar e agitar um país inteiro.

Dessa forma, esse poder de fazer com que o país tenha sua atenção toda voltada para um campeonato fez com que governos passassem a explorar a seleção, associando a vitória a um momento bom para o governante, como se ele tivesse entrado em campo
junto com os jogadores e fosse parte integrante da nação.

Contudo, essa utilização do esporte pela política já não surte tanto efeito. O mundo vive uma nova fase, mais democrática e menos inocente. O Brasil amadureceu e o torcedor começou a perceber que a seleção brasileira é uma coisa e o Brasil, outra.

Por mais que o clima eufórico trazido pela Copa possa fazer com que alguns assuntos relevantes nacionalmente fiquem de lado, eles não são completamente esquecidos. Pelo contrário, com o futebol o país levanta sua auto-estima e sente orgulho de ser brasileiro. Isto faz com que o povo queira, cada vez mais, crescer e se tornar uma nação de primeiro mundo. Lutar pelas causas nacionais.

Por mais que Getúlio Vargas tenha alcançado seus objetivos utilizando esse esporte como meio de atingir “as massas”, com a nítida posição de encampá-lo e institucionalizá-lo, o país é outro. Por mais que a ditadura militar usasse da conquista do tricampeonato mundial para defender suas idéias e o clima de alegria ajudasse a esconder o que acontecia nos porões do regime, em sua época mais dura e cruel, nada disso impediu que o povo brasileiro saísse às ruas e pedisse pela redemocratização do país, a famosa “Diretas Já!”.

Nenhum patriotismo tolo, nenhuma xenofobia descabida, o que importa é que o futebol brasileiro chegou ao fim do século como o que mais e melhor contribuiu para o encanto do jogo, o aperfeiçoamento de sua técnica, a elevação do esporte às dimensões de pura arte.

Muitos fatos o atestam: nenhum país ganhou tantos títulos mundiais, nenhum outro serviu de berço a tantos craques, nenhum esteve presente em todas as Copas do Mundo, nenhum é tão respeitado, admirado e temido por seu futebol. O negócio milionário e global em que o futebol se transformou não seria o que é sem o Brasil. Já podemos nos orgulhar disso. Agora, sem os equivocados exageros que nos levaram um dia a medir o Brasil pela qualidade de seu jogo. Já nos sabemos grandes ou pequenos, independentemente de Pelé, Garricha, Kaká ou Robinho. Ainda bem.

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